Tuesday 1 September 2015

Outros Olhos


Salta entre rochas e poças de água como uma criança, maravilhada com tudo o que a rodeia. 

O desconhecido torna-se bem familiar quando o céu está azul e o sol brilha sem queimar demasiado. O mar, que de início intimidava, agora serve apenas de pano de fundo para a aventura. Os caracóis, os peixes, os caranguejos...tudo é novo, excitante. Os olhos enchem-se e perdem-se na beleza das coisas mais simples, e as palavras são poucas, porque todos os sentidos estão ocupados, mas as que são proferidas são por vezes tão ingénuas que não consigo evitar rir na falta de resposta.


É saudável redescobrir o nosso próprio mundo através dos olhos de alguém especial. Aquilo que tomamos por garantido de repente ganha uma nova vida, os detalhes voltam a sobressair e relembrar-nos do porquê de nos termos apaixonado por aquele local e voltarmos sempre que possível. 

Sunday 7 June 2015

Farto

Das aparências.
Dos paninhos quentes.
Dos que querem ser adultos.
Do instagram.
Da falta de consideração.
Dos que esperam pela opinião dos outros para validar a deles.
Dos que querem ser cool.
Da falta de conteúdo.
Das conversas que não vão a lado nenhum.
Das modas.
Das merdas.

Post escrito e influenciado ao som de:



Friday 10 April 2015

Sufoco

Os morcegos irrompem a noite, entre os ramos das árvores que voltam a ganhar cor. As noites voltaram a ser quentes. Não o suficiente. 
Olho para o chão lá em baixo. Ao longe oiço sirenes, suspiros de vida e de morte, de paz e de guerra.

Na outra noite inalámos o bafo fedorento da morte enquanto comíamos um gelado. Quase passava despercebido, num canto absorto, abafado pelos rasgos ruidosos dos que nunca dormem e por essa natureza tão abrupta e insignificantemente absoluta que é a humana. 
Não façamos mais por isso, o fim dos tempos já nos habituou à sua presença.

Saturday 14 February 2015

S. Valentim

Ignorando os materialismos da data, fui tratar de uma coisa material. 
Meti o Bitches Brew nos ouvidos, deixei que o ritmo do diálogo entre os instrumentos comandasse a passada. Nos dias que correm deslocar-me a pé é quase uma ciência desconhecida, mas de vez em quando sabe bem sentir o carácter do pavimento com outra parte do corpo que não o rabo.

Os sítios, as cores, os cheiros, tudo me chegou com mais familiaridade, mais conteúdo, mais vitalidade. Talvez fosse o Miles a fazer das suas nos meus ouvidos, talvez fosse só inspiração de uma manhã de Sábado que começou de maneira diferente. Lembrei-me de várias pessoas com quem gostaria de estar, mandei mensagem a algumas, deixei espaço em aberto para outras.

No regresso, em frente ao meu prédio, dois titãs de tenra idade defrontavam-se num dos pequenos espaços de relva do bairro. Equipados a rigor, com olhar desafiante, determinante. Dois titãs de etnias diferentes, bem representativas do que é a vida suburbana desta cidade, onde ou te adaptas e misturas e pertences ou te distancias e crias uma bolha falsa de identidade que um dia rebenta quando percebes que aquilo que conhecias já mudou tão rapidamente como o vento. 
Lembrou-me as muitas tardes passadas em defrontas semelhantes, naqueles rectângulos de relva mal plantada ao lado do prédio do Snep. Nunca gostei de jogar aos melhores guarda-redes, mas se me perguntassem o que mudava desses anos? Nada.

Post influenciado e escrito ao som de: 
Blacklisted - When People Grow People Go

Saturday 17 January 2015

Estrada

Hoje de manhã retirei a minha mochila de viagem do canto onde a tenho arrumada (porque vou voltar a usá-la este ano). No interior estavam as calças de ganga que usei durante grande parte dos seis meses que estive "na estrada".


Virei-as do avesso em movimentos bruscos mas eficazes, com a intenção de as lavar. Uma manta de pó ganhou contornos nos raios de sol que timidamente invadiam o quarto. 

Esbocei um sorriso nostálgico e senti aquele trepidar por debaixo da pele.

Tuesday 6 January 2015

Velho do Restelo

Em tentativa de fazer listas de melhores discos do ano que agora findou, dei comigo a perceber que não houve assim tanta música nova realmente fascinante e que devia olhar mais para o passado e dar chances a coisas que toda a gente venera mas que para mim sempre foi de torcer o nariz.

Olá Beatles (só Sgt. Pepper, não há paciência para tudo), The Velvet Underground e Bob Dylan. Black Sabbath vai-me custar muito pela hedionda voz do Ozzy, mas a ver vamos.

Saturday 3 January 2015

114

Desta vez não me vou alongar muito em opiniões. No que toca a longas-metragens saídas em 2014, foi um ano fraco. Mas admito também que tenho uma lista de 10+ filmes deste ano que estou à espera que cheguem ao circuito DVD para conseguir ver com qualidade.

Explicando as listas abaixo: Uma lista para filmes anteriores a 2014 que só este ano tive a oportunidade de ver na íntegra pela primeira vez, sem ordem específica (e deixando MUITA coisa de fora); e uma lista para os filmes que realmente saíram/chegaram às salas este ano e valeram mesmo a pena.

Lista pré-2014:
  • The Broken Circle Breakdown (2012)
  • Dallas Buyers Club (2013)
  • Punch-Drunk Love (2002)
  • Seven Samurai (1954)
  • The Seventh Seal (1957)
  • Call Me Kuchu (2012)
  • The Boxer (1997)
  • Watermark (2013)
  • Rear Window (1954)
  • Her (2013)

Lista 2014:
  1. Interstellar - filme do ano. Ponto. Final. Parágrafo. Visto duas vezes no cinema - sim, é assim tão bom.
  2. 12 Years as A Slave - o único desta lista que vi no cinema além do Nº1.
  3. The Wolf of Wall Street
  4. Short Term 12
  5. Grand Budapest Hotel
  6. Gone Girl
  7. The Fault in Our Stars
  8. Boyhood - este vem aqui parar mais por questões técnicas/fora de cena do que pelo produto final em si
  9. Enemy
  10. The Hobbit: The Battle of the Five Armies - só porque continua a ser uma das minhas histórias favoritas e é melhor que o segundo.
Vi menos filmes este ano, mais documentários, mas continuo a ver muita porcaria...mas já percebi que faz parte, e que muitas vezes preciso de um filme light, blockbuster, vazio, para entreter e para não ter que puxar muito pelo cérebro.
Acho que a partir de agora vou manter o número 100 como meta anual...quando comecei a listar filmes no IMDB e a escrever sobre isso aqui a ideia era um filme por dia. Que coisa descabida. Há qualidade suficiente na história do cinema para ocupar o resto da minha vida só a ver filmes, mas a verdade é que há um mundo lá fora e vê-lo com os nossos próprios olhos e fazer os nossos próprios momentos é o objectivo mais valioso que devo tentar alcançar.

Lista completa (mas desordenada) aqui.