Friday 6 June 2014

Vampiros

Deitamo-nos sempre depois do sol nascer.
A manhã surge furtiva e dissimulada, como quem não sabe bem ao que vai mas na verdade tem o esquema todo montado. Ironicamente, tudo o que resta de nós perde um pouco do brilho quando iluminado.
O quarto revela-se pequeno demais para conter o embaraço e os olhares trocados em vez de palavras.

Uma hora e meia de sono. Que inútil. Digo-lhe que quero ficar, que aqueles olhos e aquele conforto inato são tudo o que preciso, nada mais importa. São palavras honestas, mas sei que não posso. Ela sabe disso. 

Quando fecha os olhos de novo sei que já a perdi. Nunca a tive. Será que alguma vez a vou ter? Por agora a ilusão que consumo a cada momento sacia-me a sede, mas o vazio acerca-se sempre de mim.

Antes de virar costas quis guardar aquele momento. Guardar uma prova de que a insónia não me tomou por parvo de vez. Guardar algo para que quando voltasse àquele quarto, horas mais tarde, com menos luz, conseguisse ainda sentir a sua presença.
Mas não o fiz. Fechei a porta e amaldiçoei o sol. Ladrão de sonhos.