Tuesday 31 December 2013

150

Este foi um ano difícil no que toca a listas de filmes. 
Falhando mais uma vez o objectivo de "um filme por dia" -  que, sejamos honestos, é à partida aposta perdida porque para o conseguir teria que despender de demasiadas horas úteis num ano, e além disso acho o desafio absurdo, mas não é a natureza humana uma contradição encerrada em si mesma? - consegui ainda assim ver bastantes, 150, o que me faz sentir particularmente realizado tendo em conta que atingi este número mesmo estando na estrada durante mais de cinco meses e que ainda papei bastantes séries também.
Foi óptimo poder absorver cultura local, fazes novos amigos, ver paisagens e locais especiais, e ainda assim reservar algum tempo para absorver música e filmes ao meu próprio ritmo pessoal.

Um dos pontos assentes logo desde o início de 2013 é que iria ver menos merda. Filmes medíocres têm o seu valor é certo, se são perda de tempo ou não reservo o julgamento a quem os quiser ver, mas o ano passado havia demasiada coisa dispensável nos 158. Assim sendo, e por consequência lógica, o segundo ponto foi que iria ver mais clássicos, mais coisas antigas. E não estou só a falar do aclamado Top 250 do IMDB. Coisas antigas implicam desde filmografias de cineastas que me interessam, recomendações de amigos cuja opinião tenho em conta, curiosidades germinadas por algo que li algures, ou simples actos do acaso.

Assim sendo, ao pensar no meu top 10, percebi que seria muito injusto para os filmes deste ano que agora termina mesclá-los com obras anteriores, algumas que carregam em si um peso que nunca será atingido por algumas das grandes experiências que tive com filmes deste ano.

Duas listas fazem assim mais sentido, pelo menos na minha cabeça. Uma lista para filmes anteriores a 2013 que só este ano tive a oportunidade de ver na íntegra pela primeira vez, sem ordem específica (e deixando MUITA coisa de fora); e uma lista para os filmes que realmente saíram/chegaram às salas este ano e valeram mesmo a pena.

Lista pré-2013:

  • American History X (1998)
  • Silence of the Lambs (1991)
  • Schindler's List (1993)
  • Searching for Sugar Man (2012)
  • Scent of a Woman (1992)
  • Citizen Kane (1941)
  • Hotel Ruanda (2004)
  • Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969)
  • Incendies (2010)
  • Modern Times (1936)


Lista 2013:
  1. La Grande Bellezza
  2. Gravity
  3. Django Unchained
  4. The Master
  5. Prisoners
  6. The Perks of Being a Wallflower
  7. The Hunt
  8. Mud
  9. Zero Dark Thirty
  10. Amour


Notas:

  • Fiz um pequeno ciclo sobre guerra/conflito armado enquanto viajava, com ênfase parcial na Segunda Guerra Mundial, que acho que é visível na lista pré-2013.
  • Fui de encontro a algumas filmografias que andava a adiar como a de Daniel Day-Lewis (o melhor actor da sua geração?) ou de Paul Thomas Anderson, Michael Haneke...só estes nomes davam pano para mangas e têm filmes soberbos, mas tive que colocar as coisas em perspectiva...um filme como o Modern Times, de 36, que me consegue fazer rir e coloca questões de fundo que ainda hoje são tão pertinentes é sem dúvida uma obra que tem que ser salientada antes de coisas mais recentes.
  • Mais uma vez não coloquei na lista filmes antigos que já tinha visto anteriormente (por exemplo a trilogia do Godfather que revi perto do final do ano), mas ainda assim estes contam para o número final que dá título a este post.


Lista completa aqui (infelizmente sem as minhas pontuações, mas ordenando pelo IMDB Rating não andará muito longe). Por terminar ficou o God Bless America.

Saturday 28 December 2013

No Templo

Aqui o silêncio é mestre de cerimónia. Só interrompido pelos mais irreverentes, ou perspicazes, aqueles que realmente sentem ter algo relevante a dizer.
E ao silêncio se entrega de novo o juízo sobre as palavras proferidas. Ninguém quer arcar com a responsabilidade. O debate de opiniões torna-se incómodo para todos os presentes. Os irreverentes talvez estiquem a corda, afinal de contas é a partir destes que o futuro acontece, mas não tanto como esticariam num outro qualquer local.
À noite, o vento reconquista o protagonismo. O sopro é desconexo, aleatório, mas bem-vindo. Reconforta os sentidos.

Aqui ninguém pensa no amanhã.

Confissões #02

Sempre que acabo de fazer um batido, lambo a lâmina do passador com o aparelho ainda ligado à corrente.

Friday 27 December 2013

Running #12


Life and Death

So many times left alone
This was my only home
Again down on my luck
This is all I fucking got
You think it's sad
That I'm still here
Save that shit
'Cause I don't fucking care

All I've seen, all you've taught to me
Forever instilled in me
Say you fucking live for this
What the fuck did you ever give?

I gave everything, I gave everything
You know I'll die to keep this alive
'Cause if this ever dies, I fucking die
Life and death for me


Friday 20 December 2013

Confissões #01

Vou ser sincero, tenho pena das pessoas cujo álbum de fotografias nas redes sociais inclui apenas "selfies". Faz-me pensar o quão sozinhas e carentes de atenção se devem sentir.

Monday 16 December 2013

Running #10


Vórtice


Está vários anos à minha frente, mas sou eu que lhe falo do futuro.
Já não me lembro bem de como aconteceu, já não acho que isso importe. O momento é tudo.Se é real? Não sei. O que sinto? Não sei. Se o real é apenas a minha interpretação, então o que sinto não vai além da minha percepção.
O momento é real.

É quando os olhos se fecham que nos encontramos, na ilusão daquilo que poderá um dia ser. Mas não tenho fechado muito os olhos ultimamente, em parte por influência sua. Prioridades trocadas, necessidades redireccionadas, coisas nunca faladas. Irónico, no mínimo, tal como a vida.

O momento é tudo, porque comunicamos num vórtice temporal. Não existe passado, não existe futuro, apenas o presente. Depende de nós usar o passado para tornar o futuro em presente. Até lá contento-me com o real. Fecho os olhos.

"Illusion is the first of all pleasures."

Tuesday 10 December 2013

Centrifugação


Ciclo rápido, em sintonia com os tempos e a minha paciência para o corriqueiro e estritamente necessário.
A máquina começa, mas na verdade nunca parou. Pelo menos não por estes lados, onde o progresso comanda o ritmo dos Homens.
Steinbeck faz-me companhia. Ele entende de ventos de mudança, mas os meus olhos divagam.
O som atrai-me o pensamento, e por consequência volto a pensar na máquina. 
Hipnotizante, continua a comandar ao som do seu tambor. É visceral. Olhando de perto dá para constatar o quão eficaz é a remover pedaços de História. Mais que não seja, limpa-nos da responsabilidade de ter que pensar nas consequências. Se errar é humano, então estamos a perder essa qualidade. Ciclo após ciclo, click após click, undo, delete, escape.

E eis que entra o grande final apoteótico, o meu favorito. Um turbilhão de caos e confusão. Existe a tensão, existe a possibilidade do desastre...mas não, é um final encenado, controlado, calculista, mecânico. A máquina sabe o que faz. A nós resta-nos seguir o ciclo, colher os resultados, manter o saco cheio de futilidades mas vazio de emoções, e repetir. O corriqueiro ocupa a cabeça, o coração contenta-se com o ritmo do tambor.

Friday 6 December 2013

World I Hate

Still searching
Trying to find God in all this hurting.

Secrets of the world collide
I leave the past behind
But it's been so long now that I can't go without
All the loving, all the touching 
Miss your beautiful face 
But I got to solve the secrets 
All of a world I hate 

You know I hate the world 
Secrets of the.

Turn Off the Lights I'm Watching Back to the Future


Tuesday 3 December 2013

Alpha 60

Le temps est la substance dont je suis fait. 
Le temps est un fleuve qui m’emporte. 
Mais je suis de temps. C’est un tigre, me déchire dehors, mais je suis le tigre.

Sunday 1 December 2013

Supernova

Noites boémias. O som das guitarras embala os corpos. Uma voz suave, despretensiosa, navega através da sala. As palavras cantadas trazem memórias distantes, algumas boas, algumas más. Murmuram-se melodias entre trocas de olhares cúmplices, solidários até, com os menos talentosos. Palmas juntam-se para dar ritmo ao som, mais ou menos encompassadas. Sorrisos nascem como velas acesas em todos os cantos da sala.
Todos sabemos de cor quais são as memórias, apesar das vivências serem diferentes.

Nunca havíamos estado juntos antes daquela noite. Nunca voltaríamos a estar.
Cruzámos olhares entre notas de uma guitarra mal tocada. O riso foi instintivo. O atabalhoado desfilar das cordas quase estragara a nossa parte favorita da música.
Não trocámos uma única palavra toda a noite. Não era preciso. A cumplicidade nascia a cada argumento apresentado pelo trovador, pois cada uma das suas cantigas era um ponto no mapa, uma cicatriz no corpo, uma lágrima já seca pelo tempo, esse demolidor de sonhos.
A cumplicidade deu lugar a ternura, comecei a prestar atenção aos detalhes. Foram as sardas que me cativaram o olhar, mas foi o dela que me confirmou a sensação de deja vu.
A melancolia é muito má a jogar às escondidas, aparece sempre espelhada no rosto dos que a trazem consigo. O deja vu por sua vez tem alcance curto, nunca vai muito longe, a razão e a lógica apanham-no por instinto. Mas deixa-nos sempre a magicar, que nem Houdini libertado das correntes.
As sardas pertenciam desta vez a uma face nórdica e um corpo espadaúdo mas ao mesmo tempo esguio. O cabelo era loiro de natureza mas curtinho, mais curto que o meu. A melancolia não trazia rótulo, não dava para perceber se era do momento ou de natureza.

Apenas a observei, absorvida no seu mundo, incógnita no meio do grupo, tímida na hora de soltar as letras das canções que sabia de cor.
A todas as estrelas chega a hora de brilhar. A dela chegou tardia. A face iluminou-se por momentos, o corpo levantou-se da cadeira. Tiradas as medidas da planta dos pés à ponta mais alta do cabelo, seria com certeza a rapariga mais alta que havia visto em muito tempo.
Quando tomou o banco e pegou na viola, a sua companheira de estrada voltou até si. Cabisbaixa, a vergonha, apesar de existente, escondia a verdadeira razão da melancolia ser parte de si. Mas a vergonha é sempre a primeira a saltar quando o navio já está a ir ao fundo, e a viola surte o efeito de trazer ao convés até os sentimentos mais escondidos.

Cantou e tocou uma das músicas mais amarguradas e mais belas que alguma vez tinha ouvido. A sua voz era frágil, desconcertante, exposta…puxava pela raiz de tudo aquilo que todos nós tentamos afundar. Todas as memórias, os pontos no mapa, as cicatrizes e as lágrimas estavam ali, em forma de som.
Quando o silêncio se apoderou do espaço que ficara após o fim da canção, um bravo ou tolo pediu-lhe para partilhar algo mais alegre.
“Só conheço músicas tristes”.

Steps

Over and under, I’ll dissolve and use charm as my cover. 
Left over right, walk a careful line 
between you and the outside. 
There is confidence and delusion. I reside between that confusion. 
It’s a misstep down a black hole. 
It’s a long way down and a mouthful. 
So overcome 
and become one. 

Over and under we learn to grow and we learn to recover. 
Over and out, I’ll play the card that holds me in less doubt. 
There’s promiscuity and devotion. And only one fulfils an emotion. 
It’s a big step to end a yearning. 
It’s accepting love but I’m learning 
To overcome and become one. 
I’ll find my way and follow through and maybe there I’ll meet you.