Tuesday 31 December 2013

150

Este foi um ano difícil no que toca a listas de filmes. 
Falhando mais uma vez o objectivo de "um filme por dia" -  que, sejamos honestos, é à partida aposta perdida porque para o conseguir teria que despender de demasiadas horas úteis num ano, e além disso acho o desafio absurdo, mas não é a natureza humana uma contradição encerrada em si mesma? - consegui ainda assim ver bastantes, 150, o que me faz sentir particularmente realizado tendo em conta que atingi este número mesmo estando na estrada durante mais de cinco meses e que ainda papei bastantes séries também.
Foi óptimo poder absorver cultura local, fazes novos amigos, ver paisagens e locais especiais, e ainda assim reservar algum tempo para absorver música e filmes ao meu próprio ritmo pessoal.

Um dos pontos assentes logo desde o início de 2013 é que iria ver menos merda. Filmes medíocres têm o seu valor é certo, se são perda de tempo ou não reservo o julgamento a quem os quiser ver, mas o ano passado havia demasiada coisa dispensável nos 158. Assim sendo, e por consequência lógica, o segundo ponto foi que iria ver mais clássicos, mais coisas antigas. E não estou só a falar do aclamado Top 250 do IMDB. Coisas antigas implicam desde filmografias de cineastas que me interessam, recomendações de amigos cuja opinião tenho em conta, curiosidades germinadas por algo que li algures, ou simples actos do acaso.

Assim sendo, ao pensar no meu top 10, percebi que seria muito injusto para os filmes deste ano que agora termina mesclá-los com obras anteriores, algumas que carregam em si um peso que nunca será atingido por algumas das grandes experiências que tive com filmes deste ano.

Duas listas fazem assim mais sentido, pelo menos na minha cabeça. Uma lista para filmes anteriores a 2013 que só este ano tive a oportunidade de ver na íntegra pela primeira vez, sem ordem específica (e deixando MUITA coisa de fora); e uma lista para os filmes que realmente saíram/chegaram às salas este ano e valeram mesmo a pena.

Lista pré-2013:

  • American History X (1998)
  • Silence of the Lambs (1991)
  • Schindler's List (1993)
  • Searching for Sugar Man (2012)
  • Scent of a Woman (1992)
  • Citizen Kane (1941)
  • Hotel Ruanda (2004)
  • Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969)
  • Incendies (2010)
  • Modern Times (1936)


Lista 2013:
  1. La Grande Bellezza
  2. Gravity
  3. Django Unchained
  4. The Master
  5. Prisoners
  6. The Perks of Being a Wallflower
  7. The Hunt
  8. Mud
  9. Zero Dark Thirty
  10. Amour


Notas:

  • Fiz um pequeno ciclo sobre guerra/conflito armado enquanto viajava, com ênfase parcial na Segunda Guerra Mundial, que acho que é visível na lista pré-2013.
  • Fui de encontro a algumas filmografias que andava a adiar como a de Daniel Day-Lewis (o melhor actor da sua geração?) ou de Paul Thomas Anderson, Michael Haneke...só estes nomes davam pano para mangas e têm filmes soberbos, mas tive que colocar as coisas em perspectiva...um filme como o Modern Times, de 36, que me consegue fazer rir e coloca questões de fundo que ainda hoje são tão pertinentes é sem dúvida uma obra que tem que ser salientada antes de coisas mais recentes.
  • Mais uma vez não coloquei na lista filmes antigos que já tinha visto anteriormente (por exemplo a trilogia do Godfather que revi perto do final do ano), mas ainda assim estes contam para o número final que dá título a este post.


Lista completa aqui (infelizmente sem as minhas pontuações, mas ordenando pelo IMDB Rating não andará muito longe). Por terminar ficou o God Bless America.

Saturday 28 December 2013

No Templo

Aqui o silêncio é mestre de cerimónia. Só interrompido pelos mais irreverentes, ou perspicazes, aqueles que realmente sentem ter algo relevante a dizer.
E ao silêncio se entrega de novo o juízo sobre as palavras proferidas. Ninguém quer arcar com a responsabilidade. O debate de opiniões torna-se incómodo para todos os presentes. Os irreverentes talvez estiquem a corda, afinal de contas é a partir destes que o futuro acontece, mas não tanto como esticariam num outro qualquer local.
À noite, o vento reconquista o protagonismo. O sopro é desconexo, aleatório, mas bem-vindo. Reconforta os sentidos.

Aqui ninguém pensa no amanhã.

Confissões #02

Sempre que acabo de fazer um batido, lambo a lâmina do passador com o aparelho ainda ligado à corrente.

Friday 27 December 2013

Running #12


Life and Death

So many times left alone
This was my only home
Again down on my luck
This is all I fucking got
You think it's sad
That I'm still here
Save that shit
'Cause I don't fucking care

All I've seen, all you've taught to me
Forever instilled in me
Say you fucking live for this
What the fuck did you ever give?

I gave everything, I gave everything
You know I'll die to keep this alive
'Cause if this ever dies, I fucking die
Life and death for me


Friday 20 December 2013

Confissões #01

Vou ser sincero, tenho pena das pessoas cujo álbum de fotografias nas redes sociais inclui apenas "selfies". Faz-me pensar o quão sozinhas e carentes de atenção se devem sentir.

Monday 16 December 2013

Running #10


Vórtice


Está vários anos à minha frente, mas sou eu que lhe falo do futuro.
Já não me lembro bem de como aconteceu, já não acho que isso importe. O momento é tudo.Se é real? Não sei. O que sinto? Não sei. Se o real é apenas a minha interpretação, então o que sinto não vai além da minha percepção.
O momento é real.

É quando os olhos se fecham que nos encontramos, na ilusão daquilo que poderá um dia ser. Mas não tenho fechado muito os olhos ultimamente, em parte por influência sua. Prioridades trocadas, necessidades redireccionadas, coisas nunca faladas. Irónico, no mínimo, tal como a vida.

O momento é tudo, porque comunicamos num vórtice temporal. Não existe passado, não existe futuro, apenas o presente. Depende de nós usar o passado para tornar o futuro em presente. Até lá contento-me com o real. Fecho os olhos.

"Illusion is the first of all pleasures."

Tuesday 10 December 2013

Centrifugação


Ciclo rápido, em sintonia com os tempos e a minha paciência para o corriqueiro e estritamente necessário.
A máquina começa, mas na verdade nunca parou. Pelo menos não por estes lados, onde o progresso comanda o ritmo dos Homens.
Steinbeck faz-me companhia. Ele entende de ventos de mudança, mas os meus olhos divagam.
O som atrai-me o pensamento, e por consequência volto a pensar na máquina. 
Hipnotizante, continua a comandar ao som do seu tambor. É visceral. Olhando de perto dá para constatar o quão eficaz é a remover pedaços de História. Mais que não seja, limpa-nos da responsabilidade de ter que pensar nas consequências. Se errar é humano, então estamos a perder essa qualidade. Ciclo após ciclo, click após click, undo, delete, escape.

E eis que entra o grande final apoteótico, o meu favorito. Um turbilhão de caos e confusão. Existe a tensão, existe a possibilidade do desastre...mas não, é um final encenado, controlado, calculista, mecânico. A máquina sabe o que faz. A nós resta-nos seguir o ciclo, colher os resultados, manter o saco cheio de futilidades mas vazio de emoções, e repetir. O corriqueiro ocupa a cabeça, o coração contenta-se com o ritmo do tambor.

Friday 6 December 2013

World I Hate

Still searching
Trying to find God in all this hurting.

Secrets of the world collide
I leave the past behind
But it's been so long now that I can't go without
All the loving, all the touching 
Miss your beautiful face 
But I got to solve the secrets 
All of a world I hate 

You know I hate the world 
Secrets of the.

Turn Off the Lights I'm Watching Back to the Future


Tuesday 3 December 2013

Alpha 60

Le temps est la substance dont je suis fait. 
Le temps est un fleuve qui m’emporte. 
Mais je suis de temps. C’est un tigre, me déchire dehors, mais je suis le tigre.

Sunday 1 December 2013

Supernova

Noites boémias. O som das guitarras embala os corpos. Uma voz suave, despretensiosa, navega através da sala. As palavras cantadas trazem memórias distantes, algumas boas, algumas más. Murmuram-se melodias entre trocas de olhares cúmplices, solidários até, com os menos talentosos. Palmas juntam-se para dar ritmo ao som, mais ou menos encompassadas. Sorrisos nascem como velas acesas em todos os cantos da sala.
Todos sabemos de cor quais são as memórias, apesar das vivências serem diferentes.

Nunca havíamos estado juntos antes daquela noite. Nunca voltaríamos a estar.
Cruzámos olhares entre notas de uma guitarra mal tocada. O riso foi instintivo. O atabalhoado desfilar das cordas quase estragara a nossa parte favorita da música.
Não trocámos uma única palavra toda a noite. Não era preciso. A cumplicidade nascia a cada argumento apresentado pelo trovador, pois cada uma das suas cantigas era um ponto no mapa, uma cicatriz no corpo, uma lágrima já seca pelo tempo, esse demolidor de sonhos.
A cumplicidade deu lugar a ternura, comecei a prestar atenção aos detalhes. Foram as sardas que me cativaram o olhar, mas foi o dela que me confirmou a sensação de deja vu.
A melancolia é muito má a jogar às escondidas, aparece sempre espelhada no rosto dos que a trazem consigo. O deja vu por sua vez tem alcance curto, nunca vai muito longe, a razão e a lógica apanham-no por instinto. Mas deixa-nos sempre a magicar, que nem Houdini libertado das correntes.
As sardas pertenciam desta vez a uma face nórdica e um corpo espadaúdo mas ao mesmo tempo esguio. O cabelo era loiro de natureza mas curtinho, mais curto que o meu. A melancolia não trazia rótulo, não dava para perceber se era do momento ou de natureza.

Apenas a observei, absorvida no seu mundo, incógnita no meio do grupo, tímida na hora de soltar as letras das canções que sabia de cor.
A todas as estrelas chega a hora de brilhar. A dela chegou tardia. A face iluminou-se por momentos, o corpo levantou-se da cadeira. Tiradas as medidas da planta dos pés à ponta mais alta do cabelo, seria com certeza a rapariga mais alta que havia visto em muito tempo.
Quando tomou o banco e pegou na viola, a sua companheira de estrada voltou até si. Cabisbaixa, a vergonha, apesar de existente, escondia a verdadeira razão da melancolia ser parte de si. Mas a vergonha é sempre a primeira a saltar quando o navio já está a ir ao fundo, e a viola surte o efeito de trazer ao convés até os sentimentos mais escondidos.

Cantou e tocou uma das músicas mais amarguradas e mais belas que alguma vez tinha ouvido. A sua voz era frágil, desconcertante, exposta…puxava pela raiz de tudo aquilo que todos nós tentamos afundar. Todas as memórias, os pontos no mapa, as cicatrizes e as lágrimas estavam ali, em forma de som.
Quando o silêncio se apoderou do espaço que ficara após o fim da canção, um bravo ou tolo pediu-lhe para partilhar algo mais alegre.
“Só conheço músicas tristes”.

Steps

Over and under, I’ll dissolve and use charm as my cover. 
Left over right, walk a careful line 
between you and the outside. 
There is confidence and delusion. I reside between that confusion. 
It’s a misstep down a black hole. 
It’s a long way down and a mouthful. 
So overcome 
and become one. 

Over and under we learn to grow and we learn to recover. 
Over and out, I’ll play the card that holds me in less doubt. 
There’s promiscuity and devotion. And only one fulfils an emotion. 
It’s a big step to end a yearning. 
It’s accepting love but I’m learning 
To overcome and become one. 
I’ll find my way and follow through and maybe there I’ll meet you.

Friday 22 November 2013

Crickets Throw Their Voice

If it all worked out we would live in a different house.
We would live in a different town.

This is a brand new start; clear body, broken heart.
I'll come visit you when I get the chance.

Breathing's not easy when you're underwater.
I am drowning and you're keeping me under. 
Close your eyes, sleep outside. It's warmer than in here. 
I'll be fine, I'll run and hide. I wish I could stay here. 

You're still in my head. My mind's convinced that you never left. 
I'm counting down till I see you next. 
I still compare everything to your silhouette. 
How can I forget what is perfect?

Monday 18 November 2013

Cientologia

Criei uma fórmula na minha cabeça. Isolei os componentes, adicionei um pouco de frustração e raiva, deixei evaporar a compreensão.
O resultado é a dormência daquilo que antes fui capaz de sentir. Não consigo mais prestar atenção, procurar a chave certa para abrir a porta, destrancar os teus mecanismos. Não consigo mais absorver o teu negativo e torná-lo positivo, o interruptor simplesmente não liga mais. Ou se calhar liga, mas liga um diferente, aquele que já só bloqueia o sinal como medida de prevenção.


Não há mais espaço para experiências. Não há mais motivação para desconstruções racionais. Não há mais vontade de explicar o inexplicável, de repetir os passos até que a lição fique interiorizada, porque nunca fica. Nenhum de nós interiorizou nada além de uma progressiva incompreensão mútua, que nos afasta, que nos deixa ignorantes em relação às variáveis da inequação que é a nossa relação.

Será racional ou apenas instintiva, esta minha fórmula? Sempre me questionei se o meu sentido de preservação do “eu” alguma vez se iria sobrepor aos meus sentimentos. Em vários momentos assumi que estava apenas a ceder, como é normal, ou deveria ser, mas em outros momentos senti que estava mesmo a deixar uma parte de mim para trás, a deixar de ser quem sou, em benefício de agradar, de encaixar naquilo que tu reportavas querer de mim.
Neste momento não sei. Não entendo bem a natureza daquilo que se passa, não sei se é temporário ou vai ficar para sempre. Não sei se estou a fazê-lo conscientemente ou se é apenas o resultado de uma teoria que falhou na prova empírica.

Este texto foi escrito há vários meses atrás, decidi publicá-lo pelo seu valor expressivo. Inspirado por:


Tuesday 12 November 2013

Londres (Back)

Pedalar pelo trânsito em hora de ponta.
Ouvir Biggie no metro vindo dos auscultadores de outra pessoa.
O cheiro da kush no ar, mas nada à vista.
Sumo de cranberry.
As ruas desertas às 5 da manhã.
Os abraços e os sorrisos e o que se lixe o amanhã.

Sunday 10 November 2013

Deja Vu

Apesar de óbvios, tento ignorar os sinais.
Já estive aqui antes. Conheço os cantos à casa, tenho os passos todos contados. Mas sei o tempo que demorei a sair da última vez.

Apesar de óbvia, tento não pensar na pergunta.
Já estive aqui antes. Conheço os sinais, tenho as ideias todas todas pensadas. Mas sei o que vai acontecer quando souber a resposta.
Mas é a incerteza que me corrói, ferrugem que tento esfregar com arame farpado mas não ata nem desata, só me cria nós na garganta.
Engulo em seco. Procuro passar o tempo a passar pelo tempo. Mas corrói, e não dá espaço para mais nada.

Apesar de óbvio, tento não me mostrar.

Já estive aqui antes. Conheço-me bem, tenho o plano já delineado. Mas sei que preciso da resposta para seguir em frente.

Tuesday 15 October 2013

Cinco

Ao quinto mês, reencontrei na Índia uma pessoa que não via desde o meu primeiro país, a Islândia. Parte dos primeiros 3 com quem viajei, e tem o nome da minha mãe.
Tive um dos melhores dias de toda a viagem, a conduzir uma mota (ok sejamos francos, scooter) pela primeira vez, e terminei a noite no quarto de uns quantos rapazes, que conheci meia-hora antes num bar, a contar histórias, beber memórias e afundar os estereótipos em fumo. Tudo isto após as piores vinte e quatro horas da minha vida.

O ciclo está completo. Agora só tenho Europa à minha espera, mas há que amar o sentimento de conforto que existe na anterior frase.

Wednesday 9 October 2013

Cinco (Quase)

E aos quase cinco meses, sem computador, sem séries, quase sem filmes nem música, e limitado nos livros, comprei um caderno e uma caneta e escrevi.

A necessidade aguça o engenho, já ouvi dizer por aí.

Tuesday 8 October 2013

Opacidade

Lá fora cai a chuva mais ensurdecedora que já senti na vida.
É como se estivessem a demolir todos os prédios e casas e telhados e pedaços de alcatrão à minha volta, mil trabalhadores com martelos e picaretas, tão intensos que dou por mim a pensar se não está a chover cá dentro, mesmo em cima de mim.
Apenas a oiço, no entanto. As cortinas cumprem o seu multifacetado propósito: opacidade.

Já não a vejo há quase cinco meses. É tão estranho pensar nisso, tão complicado tentar agarrar a última memória, naquele telhado que nunca teria existido, aquele abraço que nunca faria sentido, não estivesse eu aqui agora. Eu e os martelos e as picaretas e os bocados de alcatrão que se levantam e roem e remoem, e as paredes que calam e consentem e as cortinas, opacas.
Tento visualizar. O sorriso, o verdadeiro, já está tão esbatido que mal o consigo ir buscar. Merda, estragámos a pintura mesmo a sério.
Visualizo em jeito de compensação os momentos, mas os detalhes voam pela janela. Malditas cortinas, só se privam daquilo que lhes convém.

E não vale a pena meter as culpas no tempo, ou no facto de que vivi mais nestes quase cinco meses do que provavelmente em toda a minha vida até agora, porque se as paredes falassem, as cortinas mostrassem e o raio da chuva deixasse de afogar os meus sentidos, tudo o que se ia revelar era silêncio, porque não estás aqui.

Monday 16 September 2013

Quatro

Há exactamente dois meses atrás escrevi algumas notas e estatísticas sobre a minha viagem. Agora que já são quatro, acho que está na altura de uma actualização (com as repetições necessárias, obviamente).

Cidades favoritas:

Reykjavik - pela vibe cultural e relaxada;
Copenhaga - pela beleza dos edifícios e o contraste entre o moderno e o clássico;
Sarajevo - pela dualidade de religiões e estar preservada do turismo massivo, pelas marcas da guerra;
Berlim - pela história, pela vibe alternativa;
Graz - pela beleza das coisas simples e pela pacificidade;
Istambul- pelo primeiro contacto com o caos, pelas mesquitas, pela diversidade;
Leh – pela distância de tudo e a calma que transmite.

Países favoritos:

Islândia - pela natureza e território único;
Croácia - pelas praias, as ilhas, o azul turquesa das águas;
Dinamarca - pelas ciclovias e o sentimento de equilíbrio;
Turquia – pelas pessoas, a comida, a beleza e diversidade do território.
Colocaria também a Índia nesta lista, mas a minha estadia aqui ainda não terminou.

País onde irei passar mais tempo: Índia (dois meses e meio).
País onde passei menos tempo: Sérvia (menos de 4 horas).
Máximo de horas num autocarro até agora: 23 horas de Manali a Leh (Índia).
Máximo de quilómetros feitos à boleia (e a pé) numa única trajectória: apróx. 720 km (Nis na Sérvia até Istambul na Turquia, atravessando a Bulgária).
Número de fronteiras atravessadas a pé: 2 (Sérvia - Bulgária e Bulgária - Turquia).

O quinto mês será ainda aqui na Índia. O que sinto mais falta é da comida "Europeia", ou "continental", como eles chamam aqui por motivos que desconheço porque continentes há vários. Sinto falta da carne sem especiarias a monte e especialmente do peixe fresco, bem grelhado, com umas batatas cozidas e salada temperada como manda a cozinha Portuguesa.
O meu reino por um litro de azeite virgem extra lá da terra da minha mãe, haha.

Sunday 15 September 2013

Questões e Indecisões

Algumas das pessoas com quem me tenho cruzado perguntam-me o propósito. O que espero ganhar com esta experiência. O porquê.
A minha resposta? Inconclusiva.

Vivemos numa era de porquês. Tudo tem que ter origens, argumentos a favor e contra, teorias, razões. Eu pergunto-me o porquê de querer explicações quase científicas para um sentimento, uma vontade.

Questionar tudo, questionar a nossa vida, a sociedade em que nos inserimos (ou não), a nossa cultura, questionarmo-nos a nós próprios, questionar aqueles que valem a pena, e mesmo os que não valem, se valer a pena, é uma das máximas que tenho na minha vida. Ao fim destes quatro meses, as questões existem dentro de mim.
Não sejamos cínicos, a indecisão é uma constante de quem viaja. Afinal de contas muita gente diria que sou maluco por fazer o que estou a fazer, e se há constante nos malucos é a multiplicidade de ideias.

Mas ao mesmo tempo não encontro a resposta certa para essa questão tão pertinente. “É um sonho de miúdo”; “É um objectivo que sempre quis cumprir antes de chegar aos 30”; “É parte da minha busca incessante por mais informação, mais conhecimento, mais cultura, mais vida”. Será?

Se há coisa que sei é que não me meti nisto para me descobrir a mim próprio. Que cliché de merda, sinceramente. Irrita-me sempre que leio esse tipo de sentimentalismos em textos sobre viagens…sim o ser humano está sempre a “descobrir-se” e tal, e quer dizer, se estivesse a fazer isto com dezoito ou dezanove anos tudo bem, mas aos vinte e seis estar a viajar não vai fazer um reset na minha existência. 
Não vou deixar de ser um gajo urbano só porque passei noites em montanhas, não vou deixar de gostar de música pesada e chateada só porque passei horas a ouvir baladas de vozes suaves e violas que embalam a alma, não vou deixar de negar a todas as religiões só porque visitei alguns dos mais bonitos locais de oração que a mão humana já construiu em nome de deus, ou de amar o sabor de um bife grelhado, só com sal alho e pimenta, só porque passei semanas a comer refeições vegetarianas.

Mas sim, vou mudar. Sinto-me a mudar. Sinto que agora existem ainda mais coisas com as quais já não me consigo relacionar. Muitas coisas que já não fazem sentido, muitas coisas que me assustam. Sinto coisas que não consigo compreender, ou não quero.

Assusta-me a indecisão de voltar a Londres ou não. Se a vou sentir tão minha como senti mesmo antes de me ir embora, se vou conseguir aceitá-la como ela é, mesmo sabendo o quão erradas são muitas das coisas que fazem parte dela, quando comparadas com o resto do Mundo que agora conheço e faz parte de mim. 
Assusta-me se ainda vou conseguir relacionar-me com os meus amigos, os mais antigos e os mais recentes. Sinto cada vez mais a distância física e mental, sinto cada vez mais que estamos em universos paralelos, e que a perpendicularidade não depende unicamente dos sentimentos que tenho para com eles e que sei serem recíprocos mas mal nutridos. 

Verdade seja dita, é a verdade que me assusta. É a luta de mim contra mim próprio que me consome, é o saber que um dia vou acordar sem os sabores, as caras, as aventuras, e as dificuldades serão outras, mais ou menos existenciais. E que o único responsável, para o bem e para o mal, sou eu.

E o tempo continua a destruir tudo.

Post influenciado e escrito ao som de:


Let it all work out.

Monday 2 September 2013

Contemplações

Ao princípio confesso que me fazia confusão.
Não é que eu faça por menos, com as minhas roupas ocidentais e aspecto de viajante é difícil passar despercebido (com a mochila às costas então certamente está o circo armado em qualquer parte do Mundo), mas ao mesmo tempo não conseguia perceber tanto "olhar especado”, como diria a minha mãe.
Por isso baixava a cabeça, tomava medidas evasivas, fazia de tudo por esquivar os olhos e os rostos, que chegavam a ser às dezenas caso a situação fosse de multidão, coisa que é comum a qualquer hora do dia, em qualquer rua mais comercial da Índia. Um bilião tem destas coisas.

Feito quase um mês, com o discurso do “não obrigado” já gasto e a mente habituada o quão possível à realidade que te dá chapadas de mão cheia cada vez que sais à rua, decidi contra-atacar.
E, surpreendentemente, depois do olhar, está um “olá tudo bem”, e no geral uma curiosidade intrínseca, ingénua até, mas acima de tudo humilde. Alguns, claro, são motivados pelo negócio, afinal a sobrevivência aqui nem sempre é a do mais forte mas sim a do mais esperto, mas a maioria quer apenas saber de onde venho, o que já vi do seu país/região, e, uns poucos, para minha maior admiração, perguntam ainda se há algo que possam fazer por mim, ou se houve algum problema até à data.

E de repente, com três simples passos – o ripostar o olhar, sorrir e dizer olá – a contemplação passa a apertos de mão (alguns bem longos, porque aqui há o hábito de segurar mãos entre homens), a pequenas conversas, a trocas de nomes, a pequenos pedaços de humanidade que quase sempre mudam o meu humor para melhor.
São metediços é certo, e extraordinariamente frustrados em alguns níveis (particularmente o sexual), mas afinal de contas eu é que sou o peixe fora de água. Mais uma vez é só colocar em perspectiva.
Aqui a mecânica é simples: vai dando chances. Se na primeira algo corre mal, ou te decepcionas, certamente na segunda ficas duplamente impressionado, e tudo se compõe.


Já dizia o outro: é um delicado sentido de equilíbrio, este que se sente por aqui.

Monday 19 August 2013

Ficar

É tudo uma questão de perspectiva, e talvez de ritmo.
O tempo passa mais depressa, porque fazemos as coisas de forma mais compassada. Ou pelo menos é essa a impressão que retiro dos dias em que me reduzi a um número de tarefas meramente corriqueiras que não chega sequer para dar que contar aos dedos de uma mão.
Sim, já sabia que ia ser assim, mas não sabia que ia sentir esta urge de simplesmente ficar. Se calhar já precisava de descanso, de assentar, de sentir algo familiar à minha volta, afinal de contas o número três representa um quarto de ano, já não se trata apenas de esticar a corda da Europa e brincar aos jogos sem fronteiras.

Faz hoje quinze dias que cheguei à Índia, e passei-os em apenas dois lugares até agora. Sem querer meter muita estatística ao barulho, digamos apenas que em menos tempo na Turquia visitei 8 sítios, ou que em menos tempo na Europa cheguei a visitar 4 países.

Mas é tudo uma questão de perspectiva. Aqui em Manali, de onde escrevo este post, o conforto da rotina, das mesmas caras, dos mesmos cafés e restaurantes, das mesmas conversas e formas de passar o tempo, traz-me uma sensação familiar, que não nego ser aprazível.

Aqui ninguém encara a minha viagem como algo digno de franzir sobrolho, porque é a norma de toda a gente que está de passagem. Há quem fique aqui meses, nesta mesma aldeia encaixada num vale entre dois rios e rodeada de montanhas e montes, até sentir a vontade de se fazer à estrada de novo. Mas sinto o perigo do acomodar-me…às refeições feitas fora de casa porque é bom e super barato, ao deixar tudo para amanhã porque hoje já não dá tempo…mesmo quando sei que o tempo é aquilo que melhor deveria conseguir controlar estando a viajar.

Muito em breve vou voltar à estrada, à adrenalina da mochila às costas, do não saber onde vou dormir no dia seguinte, e vou fazer um esforço por correr essa Índia fora, durante os dois meses que ainda aqui me restam, mas ao mesmo tempo dou por mim a pensar se não gostaria de ficar. De adoptar este ritmo de vida lento e tão pacífico, e de simplesmente passar o resto destes dois meses com as caras, os lugares e o dia-a-dia quase trivial que aos poucos ganha terreno.

Tuesday 16 July 2013

Dois

Dois meses na estrada.

Os dias começam a mesclar-se entre si mesmos. O "fim-de-semana" é um conceito que se torna cada vez mais distante.
Tenho conhecido pessoas fantásticas, que para além da generosidade em abrirem as portas de sua casa a um estranho, partilham momentos especiais, e fazem de tudo para que eu tenha a melhor experiência possível. Continuo a ficar boquiaberto quando me entregam uma chave de casa, quando perdem tempo a explicar-me coisas sobre a cidade, quando me trazem para sair com os amigos e por um dia ou dois me sinto parte das suas vidas.

Deixo aqui uma pequena lista de opiniões. Que sirva de registo daquilo que conheci até agora, mas que espero actualizar com novos nomes no futuro, pois isso só significa que as coisas têm vindo a melhorar ainda mais. Não há ordem de preferência nas listas.

Cidades favoritas:

Reykjavik - pela vibe cultural e relaxada
Copenhaga - pela beleza dos edifícios e o contraste entre o moderno e o clássico
Sarajevo - pela dualidade de religiões e estar preservada do turismo massivo, pelas marcas da guerra
Berlim - pela história, pela vibe alternativa
Graz - pela beleza das coisas simples e pela pacificidade

Países favoritos:
Islândia - pela natureza e território único
Croácia - pelas praias, as ilhas, o azul turquesa das águas
Dinamarca - pelas ciclovias e o sentimento de equilíbrio

País onde passei menos tempo: Sérvia (menos de 4 horas).
Máximo de horas num autocarro até agora: 10 horas de Sarajevo (Bósnia Herzegovina) até Nis (Sérvia)
Máximo de quilómetros feitos à boleia num único dia: apróx. 215 km (Bergen até Stavanger)

O único sítio que odiei até agora foi a Sérvia. Não pelo estigma de serem os maus da fita da guerra nos Balcãs, mas porque a única cidade que vi era feia, muito suja, e as pessoas rudes e visivelmente incomodadas em terem que comunicar com um estranho. Talvez tenha sido da cidade onde estive, talvez tenha sido da minha barba cansada, mas não aconselho.

Sunday 16 June 2013

Faz um...

...mês que estou na estrada.

A experiência tem superado muito daquilo que previ inicialmente.
Quando comecei a planear datas e locais, decidi não absorver demasiada informação sobre os mesmos, deixando tudo em aberto para quando estivesse já na estrada. Não previ que ia ter falta de tempo para pesquisar informações sobre as cidades, não previ que ia andar à boleia logo tão cedo, não previ que ia utilizar maioritariamente o couch surfing como forma de "alojamento", e que consequentemente ia conhecer pessoas novas quase todos os dias.

Mas até agora, mais do que aquilo que absorvo de cada sítio, passeando pelas ruas e visitando pontos ocasionais, fruto de recomendação alheia ou apenas de aleatórios encontros ao virar da esquina, o que tem tornado esta experiência rica têm sido as pessoas. As que me deram boleia, alojamento, com quem partilhei histórias, refeições e momentos simples mas especiais.

Tenho agora receio que no fim das aventuras me esqueça de algumas caras, de alguns nomes, porque são já tantos e ainda só passou tão pouco tempo...irei tentar conservar todos como amigos, manter o contacto, manter a chama daqueles momentos viva para um dia mais tarde poder talvez retribuir o gesto ou continuar a partilhar mais coisas com eles e elas.

Venha o segundo mês, certamente mais quente e complicado, mas espero que com mais aventuras e pessoas para conhecer.

Tuesday 11 June 2013

Home Away From Here

I'm coming to terms that I'm not concerned
With planting my feet but looking onward
I'm growing older but I cant get over
The need of colder skin when I know that home is warmer
It's just that I have this problem
Where I want to be everywhere I'm not
I'm thankful for what I've got
A room in a house where my bed may stay
But the feel of another's sheets help keep my demons away
It's become clear that what keeps me here
Is the sense of failure and other nightmares
I've become jaded and I can't escape it
The thought of settling when I know it's what I've hated
It's just I have this problem
Where I want to be everywhere I'm not
It's just I know myself and I'll sacrifice everything I've got
Though I can't afford to eat as much as I should be
And my bills won't pay themselves so I'll come up with another scheme
This place looks better from a passenger window
Or stared at from above
But when you're chasing brightness
You lose concern with the damage done
It's not my fault
I'll try to call
No ties no roots I'm fine.


Monday 13 May 2013

Maquinarias

"Passei a relativizar a distância e o tempo", confessa. "Temos uma mais real noção de escala e do próprio território quando o percorremos, principalmente a pé ou de bicicleta. Arriscaria dizer que não pertencemos a um local se nos deslocamos nele sempre enfiados dentro de um carro".
Retirado daqui.

Nos últimos doi meses, 99% das minhas deslocações na cidade de Londres foram feitas de bicicleta. 
O que começou quase por acaso tornou-se numa necessidade (até porque perdi o cartão Oyster nas últimas duas semanas), e depois num hábito. A bicicleta tornou-se parte da minha vida, o pedalar tornou-se tão natural como ir apanhar um autocarro, as distâncias tornaram-se tão curtas em cima de duas rodas que o tempo que sabia demorar num autocarro ou mesmo no metro a percorrê-las se tornou ridículo. Lembram-se do post dos 26? Pois bem cheguei a fazer 58, tudo no mesmo dia, e no dia a seguir acordei e sai de casa para pedalar mais.

Mas aquilo que me deu mais gosto foi mesmo sentir que fiquei amigo íntimo de Londres. Já não era a Londres do mapa do metro, era a minha Londres. A Londres dos caminhos decorados para chegar aos sítios habituais, dos corta-matos pelos parques, das ruazinhas paralelas para evitar semáforos, do caos quase controlado de pedalar no centro a desviar-me de turistas, do desmistificar das zonas 1, 2, 3 e até mesmo 4, e perceber que no fundo está tudo interligado e é como que uma enorme sopa de letras cozinhada num caldeirão de betão e alcatrão.

No último dia, minutos antes de entregar a bicicleta a uma amiga que a comprou, tive o meu primeiro acidente.
Não foi um taxista maluco, nem condutor de autocarro bronco, nem turista deslumbrado...foi um homem de meia-idade, de fato e gravata, que se lembrou de atravessar a rua sem olhar, na pressa típica de quem acaba de sair do trabalho e liga o modo robô, sem ver nada à frente até chegar a casa.


Bati-lhe no ombro, perdi o controlo da bicicleta por segundos, recuperei-o, mas o boné saltou-me da cabeça e na tentativa de o apanhar no ar descontrolei-me de novo e sai literalmente a correr pela estrada fora com a bicicleta a fugir por debaixo do corpo. 

Em fúria absoluta, deixei-a estendida no meio da estrada, e corri atrás do homem. Agarrei-lhe o ombro e gritei-lhe das boas na cara, pronto para lhe espetar um murro na dita cuja caso desse para otário...mas qual robô em modo "das not compute", ficou a olhar para mim confuso.
Nem sequer se tinha apercebido do encontrão no ombro, não tinha feito caso, não tinha percebido que por mais uma milésima de segundo podia ter ido parar ao hospital (ou à morgue, se em vez de eu em duas rodas fosse outro em quatro).

Disse-lhe para ter cuidado da próxima vez, ele pediu desculpa sem saber bem porquê.

Sem correr riscos, subscrevo a citação do Tiago que deixei no início deste post, e acrescento: não pertencemos a um local se ignorarmos aquilo que nele se passa à nossa volta. Pior do que as limitações da máquina enquanto meio de deslocação, é deslocarmos-nos pela vida em modo máquina.

E agora venha o Mundo.

Monday 6 May 2013


Adoro descobrir discos fora do tempo, e perder noites a ler as letras.

Wednesday 24 April 2013

MIX01




Há uns bons tempos que andava a planear voltar a brincar com músicas de outras pessoas. Fica aqui o resultado final, num género de música onde sou bastante inexperiente e com várias peripécias que me foram acontecendo durante o mix.

No futuro vou misturar mais coisas e quero mesmo ver se durante a minha viagem consigo safar-me como suposto DJ em certos sítios.

Se forem users do Mixcloud (e porque o Soundcloud não me aceitou o mix), sigam aqui.

Tuesday 23 April 2013

Bica

Há sensivelmente um mês atrás decidi que não ia beber mais café.
Nenhum motivo em especial, simplesmente achei que me andava a fazer mais mal que bem, e que não havia nenhuma razão lógica para continuar a gastar dinheiro num produto do qual não retiro nenhum prazer em particular e que especialmente em Londres tem um preço ridiculamente inflacionado. 

Beber café é daquelas coisas que a maioria das pessoas fazem por ser "socialmente aceite". Começas a beber porque vês os teus pais beber, os teus amigos, porque te vendem o café como algo cool e trendy, porque há cafés em cada esquina, porque há quase uma cultura de lazer associada ao café. Entretanto torna-se um ritual, passa a fazer parte dos teus hábitos, e quando dás por ti já bebes 3 e 4 cafés por dia só porque sim.
Depois há os que bebem café porque gostam mesmo do sabor. Tudo certo, mas um sumo de fruta é bem mais saboroso e saudável e de certeza que não bebem 3 e 4 por dia. E se de novo quisermos pegar na questão do preço, pelo menos aqui nas terras da rainha, entre um bom sumo natural e um cappuccino todo cheio de truques não há grande diferença.

Quanto aos efeitos, eu sempre defendi que o melhor combustível para o cérebro é o belo H2O, por isso a conversa da cafeína dar jarda para enfrentar o dia a mim nunca me disse nada. Se precisar mesmo desse tipo de injecção de cafeína basta beber um red bull.

E pronto era só isto. Um bem haja a todos os cafeínados, lembrem-se de verificar se o que bebem ao menos é fair trade, sempre causam menos impacto negativo no Mundo.

Thursday 14 March 2013

26


Ontem fiz 26 quilómetros de bicicleta. Vinte e seis quilómetros a pedalar ao máximo (ainda que com várias paragens para ver o caminho no GPS), metade do percurso com uns bons 6 quilos na mochila, a levar com neve, chuviscos e frio, numa bicicleta em mau estado, com travões desafinados, corrente acabada de desenferrujar/olear mas ainda bastante emperrada.

Tinha que estar em dois sítios diferentes a horas, consegui chegar ao segundo com apenas 7 minutos de atraso. O segundo era o Hammersmith Apollo, onde trabalho, e onde tive que estar mais umas 5 horas em pé a servir bebidas no bar e a dar uma ajuda no auditório.
Quando a adrenalina baixou senti algum cansaço, mas ainda assim quando terminei o turno fui a pedalar para casa. No fim já foi a custar, mas o sentimento de realização pessoal, mesmo que numa coisa tão simples, bate qualquer dor de pernas que tenha hoje.

Numa das primeiras vezes que peguei na bicicleta, quando ela ainda estava novinha em folha, foi para fazer um percurso de 12 km quase em linha recta, e mal me aguentei. Na vinda para trás um terço do percurso foi feito a pé porque as pernas me tremiam em claro colapso muscular. Hoje em dia penso nessa experiência e no que consegui ontem e rio-me.

Testarmos os nossos limites e tentar quebrá-los é uma das coisas que me motiva em quase tudo o que faço. Acho que foi algo que aprendi (como muitas outras coisas) através do hardcore.
Quando és puto, entrar num pit cheio de gajos mais velhos e maiores que tu, arriscando-te a cair ou até levar uma boa solha no meio da cara, é assustador. Saltar de cabeça de cima de um palco pode correr muito mal.
Mas sem nunca tentar, sem nunca arriscar a dor para saber se vale ou não a pena, tornas-te apenas mais um espectador, no pit e na vida.

Saturday 2 March 2013

(HOME)



"Quando eu quis regressar para o meu lar 
Eu sei que quis me encontrar 
Nas velhas histórias do meu lar 
E na ausência da inocência 
Contida entres estas paredes 
Tudo o que eu conhecia mudou 
O tempo foi tão voraz 

Eu quero aprender mais 
Quero fazer mais
Ainda que me arrependa outra vez 
Quero chorar ao menos mais uma vez 
Eu quero amar 
Mais e mais. 

Outra vez 
Repetir 
Mais uma vez 
Repetir 
Repetir."

Obrigado Bráulio, Alex, Corentin.

Tuesday 1 January 2013

158


Há uns tempos atrás, fiz um post sobre os filmes que tinha visto até à data no ano que agora terminou.
Se na altura constatei que o número era meio absurdo, constato neste post que realmente passei demasiado tempo a ver filmes em 2012.

De um total de 158 filmes, o dobro do que tinha mencionado antes, muito pouca coisa me impressionou verdadeiramente. Mas eu sempre gostei de listas de fim de ano, e de ler reviews e opiniões de outros sobre coisas que me interessam, por isso deixo aqui então a revisão final aos melhores filmes que vi em 2012, reconhecendo, mais uma vez, que ainda me faltam ver muitos clássicos, e que provavelmente deixei escapar alguns bons filmes lançados no ano passado.
  1. 12 Angry Men (1957)
  2. The Dark Knight Rises (2012) - vi 2x em cinema
  3. Looper (2012) - vi 2x, primeira em cinema
  4. A Clockwork Orange (1971)
  5. The Hobbit: An Unexpected Journey (2012) - 3D e ecrã IMAX
  6. Life of Pi (2012) - 3D
  7. Shame (2011)
  8. Rust and Bone (2012)
  9. Skyfall (2012) - vi 2x em cinema
  10. Prometheus (2012) - vi 2x, primeira em cinema 3D
Acho engraçado perceber que muitos filmes mudaram de posição na lista, e outros desapareceram completamente, simplesmente porque à medida que reflecti sobre "os melhores", e sobre o que realmente é melhor que o quê, com base única e exclusivamente na importância que tiveram para mim enquanto consumidor e apreciador de cinema, percebi que aquilo que eu sabia há meses atrás não é mais o que sei hoje.
Ao ver o dobro dos filmes que tinha mencionado antes, as minhas opiniões, mesmo sobre os que já tinha visto, mudaram. Não posso mais colocar o The Help, ou o Intouchables no Top 10, quando penso na experiência que foi ver o Dark Knight Rises pela primeira vez, ou o Hobbit, ou como o quão genial é o Life of Pi enquanto adaptação de um livro. 

Algumas notas:

  • Decidi não incluir neste Top 10 filmes que já tinha visto na íntegra em anos anteriores, porque não seria justo para os filmes que realmente interessam deste ano, ainda que eles estejam presentes na minha lista do IMDB e contribuam para o número final de 158.
  • Quase por teimosia, optei por manter o Prometheus, mesmo em detrimento de outros grandes clássicos que têm o mesmo rating na minha lista no IMDB, apenas porque a experiência de ter visto esse filme, sozinho numa sala quase vazia, foi bastante imersiva e acredito que até hoje é do melhor 3D que já vi num filme (e papei bastante 3D neste ano findado).
  • Deixei alguns filmes incompletos, por não ter tido tempo de os terminar de ver, estes são: Cloud AtlasHara-Kiri - Death of a Samurai e I Am.
Aqui fica a lista completa para quem queira dar um olhar mais curioso.