Monday 19 August 2013

Ficar

É tudo uma questão de perspectiva, e talvez de ritmo.
O tempo passa mais depressa, porque fazemos as coisas de forma mais compassada. Ou pelo menos é essa a impressão que retiro dos dias em que me reduzi a um número de tarefas meramente corriqueiras que não chega sequer para dar que contar aos dedos de uma mão.
Sim, já sabia que ia ser assim, mas não sabia que ia sentir esta urge de simplesmente ficar. Se calhar já precisava de descanso, de assentar, de sentir algo familiar à minha volta, afinal de contas o número três representa um quarto de ano, já não se trata apenas de esticar a corda da Europa e brincar aos jogos sem fronteiras.

Faz hoje quinze dias que cheguei à Índia, e passei-os em apenas dois lugares até agora. Sem querer meter muita estatística ao barulho, digamos apenas que em menos tempo na Turquia visitei 8 sítios, ou que em menos tempo na Europa cheguei a visitar 4 países.

Mas é tudo uma questão de perspectiva. Aqui em Manali, de onde escrevo este post, o conforto da rotina, das mesmas caras, dos mesmos cafés e restaurantes, das mesmas conversas e formas de passar o tempo, traz-me uma sensação familiar, que não nego ser aprazível.

Aqui ninguém encara a minha viagem como algo digno de franzir sobrolho, porque é a norma de toda a gente que está de passagem. Há quem fique aqui meses, nesta mesma aldeia encaixada num vale entre dois rios e rodeada de montanhas e montes, até sentir a vontade de se fazer à estrada de novo. Mas sinto o perigo do acomodar-me…às refeições feitas fora de casa porque é bom e super barato, ao deixar tudo para amanhã porque hoje já não dá tempo…mesmo quando sei que o tempo é aquilo que melhor deveria conseguir controlar estando a viajar.

Muito em breve vou voltar à estrada, à adrenalina da mochila às costas, do não saber onde vou dormir no dia seguinte, e vou fazer um esforço por correr essa Índia fora, durante os dois meses que ainda aqui me restam, mas ao mesmo tempo dou por mim a pensar se não gostaria de ficar. De adoptar este ritmo de vida lento e tão pacífico, e de simplesmente passar o resto destes dois meses com as caras, os lugares e o dia-a-dia quase trivial que aos poucos ganha terreno.