Monday 21 April 2014

Lascívia

Calafrios. Acordo numa poça de suor.
Os olhos mantenho-os fechados, mas as imagens começam a desvanecer. Nunca consigo guardar os sonhos para mais tarde. Nunca consigo guardar nada para mais tarde.
O dia desenrola-se qual bola de ferro. Arrasta-se, arrasta-me, alastra-se. Mas não importa. Há algo à minha espera no fundo do túnel.

Zero. Mesmo quando preciso, quando importa, a concentração esvai-se, evapora-se. Fecho os olhos na esperança de conseguir agarrar a que resta. Nunca consigo guardar nada para mais tarde.

Não paro de pensar no final do túnel, mesmo sabendo que não há final. Não há nada naquele abraço que me consome, que me acalma, que me devora. O toque, o cheiro, o sabor, cada um ocupa um espaço específico na minha mente. Tremo de desejo por cada um deles em igual medida, desejo todos ao mesmo tempo em quantidades infindáveis.
Fecho os olhos, quero que tudo desapareça, quero que o túnel me engula sem promessas de um final feliz. Eu sei que não vai existir um final feliz, mas não consigo tirá-lo da cabeça.

Dou voltas e voltas, procuro caminhos, procuro atalhos. A incapacidade torna-se em frustração, a frustração torna-se em vontade, a vontade torna-se em necessidade, a necessidade torna-se em ímpeto, o ímpeto torna-se em consumação.

Doses e medidas, cortes e feridas. Uma das minhas músicas favoritas começa por dizer que todos temos corações enegrecidos. Mas não explica como lidamos com eles.

Quero tocar, cheirar, saborear, mas não o faço. Abstenho-me. Converso desconversando, defendo-me atacando, passivo agressivo, falso, sujo, hipócrita. Mas fraco como sou, sucumbo. Digo a mim mesmo que não fui eu que dei o primeiro passo quando na verdade fui eu que corri atrás. Falso, sujo, hipócrita.
Absorvo com o máximo vigor, agarro, mordo, tudo é feito com um fervor que me transporta para fora de mim. Há algo no abraço, no toque, no cheiro, no sabor. Não é vazio. Mas não é completo. Não me completa. Mas sabe tão bem que quase consigo agarrar as imagens de um passado não muito longínquo.

Fecho os olhos. Tento salvar todos os pedaços, todos os restos, levá-los comigo, retirar deles algo que ilumine estas noites húmidas de privação.
Nunca consigo guardar nada para mais tarde.


Post influenciado e escrito ao som de:

Wednesday 16 April 2014


Se há vezes em que me dá mesmo gosto ser do contra, é quando decido só dar chances aos hypes da música "indie" anos mais tarde. 

Li, em 2008 não terias certamente tido o mesmo impacto. Em 2014 és do melhor que ouvi este ano.


Mo Money...

"-I really can't see the point in investing so much time and effort in something that isn't making you any money.
-Exactly: you can't really see."