Sunday 23 March 2014

Em Duas Rodas

Quando decidi que iria tentar usar a bicicleta como primordial meio de transporte no meu regresso a Londres, fi-lo sem pensar duas vezes.
Já tinha dado gradualmente passos largos para esta mudança – nos meus últimos meses na cidade, antes da viagem que iniciei em Maio do ano passado – mas estes tinham sido mais resultado de condicionantes do que uma decisão verdadeiramente calculada.


Agora, com perto de três meses a pedalar contra frio, chuva, vento, taxistas, autocarros, buracos, turistas, bêbados, etc., acho que posso finalmente dizer que a bicicleta faz parte da minha vida em Londres.

Através dela tenho vindo a desenvolver um gosto especial pela cidade, pelo seu misto de clássico com moderno, de betão com espaços verdes, de caos com metodismo. Em dias de sol os espaços irradiam vida e dinâmica, durante a noite a cidade ganha um charme que se revela na iluminação selectiva e colorida dos espaços mais turísticos, a par da aura de mistério patente nas ruas e vielas mais estagnadas no tempo.

Cada vez que pedalo, particularmente longas distâncias, vejo também um progresso que ajuda à determinação de continuar. Há uma aprendizagem gradual, uma confiança que se ganha com a experiência, uma competição de nós contra nós próprios (e contra as adversidades que encontramos) que fortalece o espírito.
Da mesma maneira que me lembro de no ano passado sorrir ao pensar nos kilometros que já conseguia fazer num dia, ou de como conseguia encontrar as minhas próprias rotas alternativas para chegar aos sítios, hoje regozijo a pensar no quão rápido consigo atravessar a cidade de uma ponta à outra, muito mais depressa que um autocarro, quase tão rápido como o metropolitano (se contarmos o tempo de porta a porta), de como consigo pedalar sem mãos (nunca o tinha feito antes) e principalmente do prazer que me dá fazê-lo de bicicleta. Posso dizer honestamente que sou uma pessoa mais feliz a utilizar a bicicleta como meio de transporte em Londres.


Se às vezes é duro, cansativo, e se tem várias condicionantes? Claro. Sem esses factores provavelmente já estaria aborrecido. É a adversidade que dá um gosto especial ao que faço.

Tuesday 18 March 2014

Antwerpen



De todas as fotos que já tirei em viagem, esta será provavelmente a minha favorita.

A emoção da chegada e da partida, o charme adicional do comboio, um meio de transporte outrora tão crucial e hoje em dia tão esquecido, a beleza arquitectónica tão imponente e ao mesmo tempo tão permissiva. 

Até breve, Antuérpia.

Thursday 13 March 2014

Dualidades

É complicado ter planos, quando o plano é viver. É complicado ter opções quando não sabemos distinguir entre o real e o abstracto.
Só há dois ritmos. O de quando tudo à nossa volta pára e nada mais interessa, e o de quando o feitiço quebra e tudo se desenrola a contra-relógio.

Beijo na boca, pé no pedal, palavras que carregam mais do que caracteres, olhares trocados através de um ecrã. Ou consigo alcançar mas não tocar onde realmente quero, ou toco e sinto mas não consigo alcançar de todo. 

Passo a mão por cabelos loiros. Os olhos verdes - quase cinzentos quando a luz é amena – deixam transparecer tudo aquilo com o qual não quero lidar, mas ainda aqui estou. Acordo a olhar para cabelos negros. O olhar é confiante mas deixa transparecer as mesmas sequelas. As curvas são tudo aquilo que desejo, mas trazem consigo uma ruína da racionalidade da qual sempre me prezo.

Parece maldição, esta percepção daquilo que se esconde por detrás do sorriso momentâneo e do olhar que divaga.
A dualidade é intrínseca mas começa a dar cabo de mim. Já não sei o que quero, e pior, não sei bem o que querem de mim.
Bem tento continuar a planear, antecipar os obstáculos, gerir a logística, sem perceber que o principal obstáculo sou eu, e a sabotagem que a mim próprio me permito.
Continuo a tentar não perder o controlo, ir com calma, gerir os sentimentos, sem perceber que o principal motor do caos sou eu, e as emoções que não consigo deixar na gaveta.

Mas percebo. E confesso. E exercito a tal honestidade brutal que tenho vindo a aperfeiçoar. Os resultados são distintos, as reacções são diferentes, e continuo dividido entre o real e o abstracto. Por agora preenche-me mais o real, porque é o mais fácil é certo, mas também porque é o que oferece o desafio mais imediato. Mesmo percebendo que o abstracto será invariavelmente a variável de maior satisfação, porque afinal de contas é o sonho que comanda a vida.

Wednesday 12 March 2014

R U Mine?

I'm a puppet on a string
Tracy Island, time-traveling diamond
Coulda shaped heartaches
Come to find ya fall in some velvet morning
Years too late
She's a silver lining lone ranger riding
Through an open space
In my mind when she's not right there beside me

I go crazy 'cause here isn't where I wanna be
And satisfaction feels like a distant memory
And I can't help myself,
All I wanna hear her say is "Are you mine?"

Are you mine?
Are you mine?
Are you mine?

I guess what I'm trying to say is I need the deep end
Keep imagining meeting, wished away entire lifetimes
Unfair we're not somewhere misbehaving for days
Great escape lost track of time and space
She's a silver lining climbing on my desire

And I go crazy 'cause here isn't where I wanna be
And satisfaction feels like a distant memory
And I can't help myself,
All I wanna hear her say is "Are you mine?"

Well, are you mine? (Are you mine tomorrow?)
Are you mine? (Or just mine tonight?)
Are you mine? (Are you mine? Mine?)

And the thrill of the chase moves in mysterious ways
So in case I'm mistaken,
I just wanna hear you say you got me baby
Are you mine?

She's a silver lining lone ranger riding through an open space
In my mind when she's not right there beside me
And I go crazy cause here isn't where I wanna be

And satisfaction feels like a distant memory
And I can't help myself,
All I wanna hear her say is "Are you mine?"

Well, are you mine? (Are you mine tomorrow?)
Are you mine? (Or just mine tonight?)
Are you mine? (Are you mine tomorrow, or just mine tonight?)


Saturday 8 March 2014

Herói


Ontem gritei na cara de um dos meus heróis. 
Olhei-o nos olhos: vi espelhadas nele as mesmas questões, as mesmas inseguranças, o mesmo peso das expectativas, das desilusões, das falhas, do fardo que é ser humano em tempos desumanos.
Saltei por cima dele, aterrei em corpos de outros miúdos como eu, que carregam também os seus fardos, e idolatram alguém como ele pelo simples facto de assumir, questionar, expor tudo aquilo que tantos guardam cá dentro até sucumbirem ao peso.

No final, quando o ruído cessou, o George sentou-se no chão daquele que havia sido o seu palco por trinta e poucos minutos, encostado a uma parede, em silêncio, a olhar para o vazio. O êxtase ainda era visível na sua cara, mas ia-se transformando em algo diferente. Talvez fossem os demónios que ele acabara de exorcizar minutos antes ainda presentes na sua consciência, ou talvez fosse outra coisa qualquer. Nunca saberei. A uns escassos passos dele, não tive coragem de lhe dizer nada.
Se foi por sentir aquele como um momento privado, se foi por querer preservar o mito do homem que penso conhecer numa redoma de vidro, se foi por medo de bloquear quando lhe quisesse dizer o quão importantes as suas palavras têm sido para mim ao longo dos anos, o quão me revi nelas e me virei para elas em momentos mais negros...nunca saberei. Virei costas e deixei-o naquele palco, entregue a si mesmo como ele sempre esteve e sempre estará.

Fica aqui então um obrigado em atraso, George. Espero que continues a não sucumbir.