Tuesday 15 October 2013

Cinco

Ao quinto mês, reencontrei na Índia uma pessoa que não via desde o meu primeiro país, a Islândia. Parte dos primeiros 3 com quem viajei, e tem o nome da minha mãe.
Tive um dos melhores dias de toda a viagem, a conduzir uma mota (ok sejamos francos, scooter) pela primeira vez, e terminei a noite no quarto de uns quantos rapazes, que conheci meia-hora antes num bar, a contar histórias, beber memórias e afundar os estereótipos em fumo. Tudo isto após as piores vinte e quatro horas da minha vida.

O ciclo está completo. Agora só tenho Europa à minha espera, mas há que amar o sentimento de conforto que existe na anterior frase.

Wednesday 9 October 2013

Cinco (Quase)

E aos quase cinco meses, sem computador, sem séries, quase sem filmes nem música, e limitado nos livros, comprei um caderno e uma caneta e escrevi.

A necessidade aguça o engenho, já ouvi dizer por aí.

Tuesday 8 October 2013

Opacidade

Lá fora cai a chuva mais ensurdecedora que já senti na vida.
É como se estivessem a demolir todos os prédios e casas e telhados e pedaços de alcatrão à minha volta, mil trabalhadores com martelos e picaretas, tão intensos que dou por mim a pensar se não está a chover cá dentro, mesmo em cima de mim.
Apenas a oiço, no entanto. As cortinas cumprem o seu multifacetado propósito: opacidade.

Já não a vejo há quase cinco meses. É tão estranho pensar nisso, tão complicado tentar agarrar a última memória, naquele telhado que nunca teria existido, aquele abraço que nunca faria sentido, não estivesse eu aqui agora. Eu e os martelos e as picaretas e os bocados de alcatrão que se levantam e roem e remoem, e as paredes que calam e consentem e as cortinas, opacas.
Tento visualizar. O sorriso, o verdadeiro, já está tão esbatido que mal o consigo ir buscar. Merda, estragámos a pintura mesmo a sério.
Visualizo em jeito de compensação os momentos, mas os detalhes voam pela janela. Malditas cortinas, só se privam daquilo que lhes convém.

E não vale a pena meter as culpas no tempo, ou no facto de que vivi mais nestes quase cinco meses do que provavelmente em toda a minha vida até agora, porque se as paredes falassem, as cortinas mostrassem e o raio da chuva deixasse de afogar os meus sentidos, tudo o que se ia revelar era silêncio, porque não estás aqui.