Sunday 3 January 2016

Jakarta

Sabia-o desde o regresso mas tinha que voltar a sentir o peso nos ombros e o trepidar por debaixo da pele para ter a certeza: o monstro estava só adormecido.

Na noite anterior, enquanto enrolava as mesmas roupas de há dois anos atrás e encaixava as peças no puzzle da mochila, senti-me como que um rudimentar Bruce Wayne em preparação para um confronto anunciado. Claro que a preparação essa foi à última da hora, em cima do joelho e com três pancadas mal dadas.
Só mesmo quando as portas de vidro se removeram automaticamente da minha frente - revelando o familiar misto de humidade, calor e caos que se sentia à saída do aeroporto - é que me apercebi que não fazia ideia de como chegar ao centro da cidade.

Para minha própria surpresa, o spider sense ligou sem permissão e a adrenalina tratou de eliminar os vestígios das mais de vinte horas sem dormir. O choque cultural já não chocava, os taxistas gananciosos a tentar impingir tarifas absurdas que só o turista mais obsceno está disposto a pagar desistiram logo ao fim de segundos a regatear e passados poucos minutos já estava com os meus, o zé povinho, num autocarro atolado em direcção à estação central...por um preço cinco vezes inferior ao que os taxistas pediam. Barato, e na verdade bastante confortável. Até wi-fi grátis o veículo disponibilizava.

Já com o motor ligado, as mudanças engrenadas e mantendo a minha velha estúpida tradição de caminhar kilómetros de mochila às costas nas horas mais quentes do dia, comprei uma garrafa de água a um vendedor de rua e fiz-me ao caminho até ao hostel. 
É certo que as distâncias no mapa enganam, mesmo com a possibilidade de fazer zoom. Uma hora não muito bem passada mais tarde cheguei ao meu destino. O que perdi em suor ganhei em perspectiva do amontoado de caos, cheiros nauseabundos e trânsito incessante que chamam de Jakarta, capital da Indonésia. 

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