Ontem gritei na cara de um dos meus heróis.
Olhei-o nos olhos: vi espelhadas nele as mesmas questões, as mesmas inseguranças, o mesmo peso das expectativas, das desilusões, das falhas, do fardo que é ser humano em tempos desumanos.
Saltei por cima dele, aterrei em corpos de outros miúdos como eu, que carregam também os seus fardos, e idolatram alguém como ele pelo simples facto de assumir, questionar, expor tudo aquilo que tantos guardam cá dentro até sucumbirem ao peso.
No final, quando o ruído cessou, o George sentou-se no chão daquele que havia sido o seu palco por trinta e poucos minutos, encostado a uma parede, em silêncio, a olhar para o vazio. O êxtase ainda era visível na sua cara, mas ia-se transformando em algo diferente. Talvez fossem os demónios que ele acabara de exorcizar minutos antes ainda presentes na sua consciência, ou talvez fosse outra coisa qualquer. Nunca saberei. A uns escassos passos dele, não tive coragem de lhe dizer nada.
Se foi por sentir aquele como um momento privado, se foi por querer preservar o mito do homem que penso conhecer numa redoma de vidro, se foi por medo de bloquear quando lhe quisesse dizer o quão importantes as suas palavras têm sido para mim ao longo dos anos, o quão me revi nelas e me virei para elas em momentos mais negros...nunca saberei. Virei costas e deixei-o naquele palco, entregue a si mesmo como ele sempre esteve e sempre estará.
Fica aqui então um obrigado em atraso, George. Espero que continues a não sucumbir.
Dos teus textos que mais curti.
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