É complicado ter
planos, quando o plano é viver. É complicado ter opções quando não sabemos
distinguir entre o real e o abstracto.
Só há dois
ritmos. O de quando tudo à nossa volta pára e nada mais interessa, e o de
quando o feitiço quebra e tudo se desenrola a contra-relógio.
Beijo na boca, pé
no pedal, palavras que carregam mais do que caracteres, olhares trocados através
de um ecrã. Ou consigo alcançar mas não tocar onde realmente quero, ou toco e sinto mas não consigo alcançar de todo.
Passo a mão por cabelos loiros. Os olhos verdes - quase cinzentos quando a luz é
amena – deixam transparecer tudo aquilo com o qual não quero lidar, mas ainda
aqui estou. Acordo a olhar para cabelos negros. O olhar é confiante mas deixa
transparecer as mesmas sequelas. As curvas são tudo aquilo que desejo, mas
trazem consigo uma ruína da racionalidade da qual sempre me prezo.
Parece maldição,
esta percepção daquilo que se esconde por detrás do sorriso momentâneo e do
olhar que divaga.
A dualidade é intrínseca
mas começa a dar cabo de mim. Já não sei o que quero, e pior, não sei bem o
que querem de mim.
Bem tento continuar
a planear, antecipar os obstáculos, gerir a logística, sem perceber que o
principal obstáculo sou eu, e a sabotagem que a mim próprio me permito.
Continuo a tentar
não perder o controlo, ir com calma, gerir os sentimentos, sem perceber que o
principal motor do caos sou eu, e as emoções que não consigo deixar na gaveta.
Mas percebo. E
confesso. E exercito a tal honestidade brutal que tenho vindo a aperfeiçoar. Os
resultados são distintos, as reacções são diferentes, e continuo dividido entre
o real e o abstracto. Por agora preenche-me mais o real, porque é o mais fácil é
certo, mas também porque é o que oferece o desafio mais imediato. Mesmo
percebendo que o abstracto será invariavelmente a variável de maior satisfação,
porque afinal de contas é o sonho que comanda a vida.
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