Hoje a noite foi
do Gambino.
Numa
Quarta-Feira à noite, ou sais de casa com um plano, e provavelmente um bilhete
no bolso, ou não sais de todo. Mas Londres saiu, ou pelo menos a sala cheia que
encontrei já a meio do concerto assim o indicava.
Nesta coisa do
Hip-Hop “moderno”, que assumo acompanhar com alguma atenção, é preciso saber
surfar a onda do hype, manter uma
relevância contínua e principalmente criar um crescendo de atenção na Internet.
Isto pelo menos no underground,
aquela música que ainda não inunda as rádios e televisões (mas deixo o conceito
em si aberto à interpretação de cada um).
Este Hip-Hop tem
também uma particularidade: tem que saber apelar a miúdos brancos de
classe média, "getting that white people's money". E comprovei isso também hoje no concerto do Childish Gambino.
Underground o suficiente para a
promotora jogar pelo seguro e marcar concerto numa sala onde cabem umas 300
pessoas apertadas, mas com uma música adaptável, mainstream o suficiente para daqui a uns tempos já estar a voltar
cá e a actuar para audiências de 1000 ou mais.
Para quem não
conhece, a onda do Gambino é a mesma de um Drake, com um pouco menos de
cantoria e influências mais indie nos
beats, que é o mesmo que dizer que se enquadra bem no espectro artístico que o
Kanye West conseguiu aperfeiçoar e trazer para a fama. Ou seja, fala-se pouco da realidade criminosa
e empobrecida das ruas e mais de raparigas, amores perdidos, de como é
complicado lidar com a fama e de como a perseverança e o trabalho duro são
suficientes para conseguir alcançar os sonhos.
Ocasionalmente surge o tema das origens humildes, ou do racismo, ou até o do preconceito da própria comunidade Hip-Hop contra o que é diferente, mas o “diferente” começa a ser relativo nos tempos que correm, onde há espaço (e fãs) para toda a gente.
Ocasionalmente surge o tema das origens humildes, ou do racismo, ou até o do preconceito da própria comunidade Hip-Hop contra o que é diferente, mas o “diferente” começa a ser relativo nos tempos que correm, onde há espaço (e fãs) para toda a gente.
Pode não ser
apelativo para todos, mas soa honesto, porque é um miúdo a falar daquilo que
lhe é comum, sem inventar realidades que não são a dele. Não se desfaz das
manias de grandeza e narcisismos que são inerentes ao Hip-Hop, e que no fundo
fazem parte do “jogo”, mas com os pés bem situados na terra e sabendo que é no
palco que se agarra quem compra discos, não na Internet.
O rapaz tem
talento (já era escritor de séries televisivas e actor antes de ser músico),
admito, e sabe o que faz. Não sobe a palco com DJ, sobe com uma banda de
multi-instrumentalistas que tanto tocam sintetizador como violino, e dá um
concerto sólido e memorável, com uma entrega incansável, energética e palpável
(era mais fácil fazer um stage dive neste concerto do que no último que vi de
hardcore na mesma sala, tal não era a irrelevância das barreiras ou a falta de
seguranças).
O que
transpareceu também antes e depois do concerto, e que me fez em parte escrever
o post, foi a humildade que presenciei, e me disse respeito até certo ponto.
Estando eu ali por motivos de trabalho e não por ser fã, vi o que os fãs não viram: a banda que acompanhava o headliner esteve presente nos trabalhos de palco e montou o backline sem ajudas, e ajudou-me a mim inclusive na desmontagem, o que é raríssimo nestas andanças; o tour manager era tão boa onda e tão jovem que demonstrava uma ingenuidade inerente (convidou-me a vir ver o concerto, ofereceu-me cerveja e coca-cola do frigorífico do artista e agradeceu o meu trabalho com um aperto de mão sentido), e o próprio Donald, aka Gambino, saiu do minúsculo backstage uns quinze minutos depois do último acorde e ficou a conversar com os fãs mais resistentes (e as groupies) que ignoraram as instruções dos seguranças para abandonar a sala, trocando piadas com os companheiros de tour e descomprometidamente dizendo alto e bom som “I’m already the gayest rapper”. Sem manias de grandeza portanto.
Estando eu ali por motivos de trabalho e não por ser fã, vi o que os fãs não viram: a banda que acompanhava o headliner esteve presente nos trabalhos de palco e montou o backline sem ajudas, e ajudou-me a mim inclusive na desmontagem, o que é raríssimo nestas andanças; o tour manager era tão boa onda e tão jovem que demonstrava uma ingenuidade inerente (convidou-me a vir ver o concerto, ofereceu-me cerveja e coca-cola do frigorífico do artista e agradeceu o meu trabalho com um aperto de mão sentido), e o próprio Donald, aka Gambino, saiu do minúsculo backstage uns quinze minutos depois do último acorde e ficou a conversar com os fãs mais resistentes (e as groupies) que ignoraram as instruções dos seguranças para abandonar a sala, trocando piadas com os companheiros de tour e descomprometidamente dizendo alto e bom som “I’m already the gayest rapper”. Sem manias de grandeza portanto.
Com um nome
artístico ironicamente gangster que segundo o próprio foi inventado num tal
“Wu-Tang Clan Name Generator”, se há coisa boa nesta nova onda de Hip-Hop é que
traz uma mensagem de DIY em anexo, ignora os estereótipos dos “street credits” e das raízes do “ghetto” que são quase código genético
de tanto rapper, e diz que nem sequer é preciso fazer música para agradar o público genérico deste estilo de música.
É uma subversão
de géneros e estéticas interessante. Espero que é que a humildade continue a
mesma, agora que já colabora com membros dos próprios Wu-Tang e outros
pesos pesados do rap Norte-Americano na nova mixtape.
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