Algumas das pessoas com quem me tenho cruzado perguntam-me o propósito. O que espero ganhar com esta experiência. O porquê.
A minha resposta? Inconclusiva.
Vivemos numa era de porquês. Tudo tem que ter origens, argumentos a favor e contra, teorias, razões. Eu pergunto-me o porquê de querer explicações quase científicas para um sentimento, uma vontade.
Questionar tudo, questionar a nossa vida, a sociedade em que nos inserimos (ou não), a nossa cultura, questionarmo-nos a nós próprios, questionar aqueles que valem a pena, e mesmo os que não valem, se valer a pena, é uma das máximas que tenho na minha vida. Ao fim destes quatro meses, as questões existem dentro de mim.
Não sejamos cínicos, a indecisão é uma constante de quem viaja. Afinal de contas muita gente diria que sou maluco por fazer o que estou a fazer, e se há constante nos malucos é a multiplicidade de ideias.
Mas ao mesmo tempo não encontro a resposta certa para essa questão tão pertinente. “É um sonho de miúdo”; “É um objectivo que sempre quis cumprir antes de chegar aos 30”; “É parte da minha busca incessante por mais informação, mais conhecimento, mais cultura, mais vida”. Será?
Se há coisa que sei é que não me meti nisto para me descobrir a mim próprio. Que cliché de merda, sinceramente. Irrita-me sempre que leio esse tipo de sentimentalismos em textos sobre viagens…sim o ser humano está sempre a “descobrir-se” e tal, e quer dizer, se estivesse a fazer isto com dezoito ou dezanove anos tudo bem, mas aos vinte e seis estar a viajar não vai fazer um reset na minha existência.
Não vou deixar de ser um gajo urbano só porque passei noites em montanhas, não vou deixar de gostar de música pesada e chateada só porque passei horas a ouvir baladas de vozes suaves e violas que embalam a alma, não vou deixar de negar a todas as religiões só porque visitei alguns dos mais bonitos locais de oração que a mão humana já construiu em nome de deus, ou de amar o sabor de um bife grelhado, só com sal alho e pimenta, só porque passei semanas a comer refeições vegetarianas.
Mas sim, vou mudar. Sinto-me a mudar. Sinto que agora existem ainda mais coisas com as quais já não me consigo relacionar. Muitas coisas que já não fazem sentido, muitas coisas que me assustam. Sinto coisas que não consigo compreender, ou não quero.
Assusta-me a indecisão de voltar a Londres ou não. Se a vou sentir tão minha como senti mesmo antes de me ir embora, se vou conseguir aceitá-la como ela é, mesmo sabendo o quão erradas são muitas das coisas que fazem parte dela, quando comparadas com o resto do Mundo que agora conheço e faz parte de mim.
Assusta-me se ainda vou conseguir relacionar-me com os meus amigos, os mais antigos e os mais recentes. Sinto cada vez mais a distância física e mental, sinto cada vez mais que estamos em universos paralelos, e que a perpendicularidade não depende unicamente dos sentimentos que tenho para com eles e que sei serem recíprocos mas mal nutridos.
Verdade seja dita, é a verdade que me assusta. É a luta de mim contra mim próprio que me consome, é o saber que um dia vou acordar sem os sabores, as caras, as aventuras, e as dificuldades serão outras, mais ou menos existenciais. E que o único responsável, para o bem e para o mal, sou eu.
E o tempo continua a destruir tudo.
Post influenciado e escrito ao som de:
Let it all work out.
No comments:
Post a Comment