Monday, 2 September 2013

Contemplações

Ao princípio confesso que me fazia confusão.
Não é que eu faça por menos, com as minhas roupas ocidentais e aspecto de viajante é difícil passar despercebido (com a mochila às costas então certamente está o circo armado em qualquer parte do Mundo), mas ao mesmo tempo não conseguia perceber tanto "olhar especado”, como diria a minha mãe.
Por isso baixava a cabeça, tomava medidas evasivas, fazia de tudo por esquivar os olhos e os rostos, que chegavam a ser às dezenas caso a situação fosse de multidão, coisa que é comum a qualquer hora do dia, em qualquer rua mais comercial da Índia. Um bilião tem destas coisas.

Feito quase um mês, com o discurso do “não obrigado” já gasto e a mente habituada o quão possível à realidade que te dá chapadas de mão cheia cada vez que sais à rua, decidi contra-atacar.
E, surpreendentemente, depois do olhar, está um “olá tudo bem”, e no geral uma curiosidade intrínseca, ingénua até, mas acima de tudo humilde. Alguns, claro, são motivados pelo negócio, afinal a sobrevivência aqui nem sempre é a do mais forte mas sim a do mais esperto, mas a maioria quer apenas saber de onde venho, o que já vi do seu país/região, e, uns poucos, para minha maior admiração, perguntam ainda se há algo que possam fazer por mim, ou se houve algum problema até à data.

E de repente, com três simples passos – o ripostar o olhar, sorrir e dizer olá – a contemplação passa a apertos de mão (alguns bem longos, porque aqui há o hábito de segurar mãos entre homens), a pequenas conversas, a trocas de nomes, a pequenos pedaços de humanidade que quase sempre mudam o meu humor para melhor.
São metediços é certo, e extraordinariamente frustrados em alguns níveis (particularmente o sexual), mas afinal de contas eu é que sou o peixe fora de água. Mais uma vez é só colocar em perspectiva.
Aqui a mecânica é simples: vai dando chances. Se na primeira algo corre mal, ou te decepcionas, certamente na segunda ficas duplamente impressionado, e tudo se compõe.


Já dizia o outro: é um delicado sentido de equilíbrio, este que se sente por aqui.

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