Ao princípio
confesso que me fazia confusão.
Não é que eu faça por menos, com as minhas roupas ocidentais e aspecto de viajante é difícil passar despercebido (com a mochila às costas então certamente está o circo armado em qualquer parte do Mundo), mas ao mesmo tempo não conseguia perceber tanto "olhar especado”, como diria a minha mãe.
Não é que eu faça por menos, com as minhas roupas ocidentais e aspecto de viajante é difícil passar despercebido (com a mochila às costas então certamente está o circo armado em qualquer parte do Mundo), mas ao mesmo tempo não conseguia perceber tanto "olhar especado”, como diria a minha mãe.
Por isso baixava
a cabeça, tomava medidas evasivas, fazia de tudo por esquivar os olhos e os
rostos, que chegavam a ser às dezenas caso a situação fosse de multidão, coisa
que é comum a qualquer hora do dia, em qualquer rua mais comercial da
Índia. Um bilião tem destas coisas.
Feito quase um
mês, com o discurso do “não obrigado” já gasto e a mente habituada o quão
possível à realidade que te dá chapadas de mão cheia cada vez que sais à rua,
decidi contra-atacar.
E,
surpreendentemente, depois do olhar, está um “olá tudo bem”, e no geral uma
curiosidade intrínseca, ingénua até, mas acima de tudo humilde. Alguns, claro,
são motivados pelo negócio, afinal a sobrevivência aqui nem sempre é a do mais
forte mas sim a do mais esperto, mas a maioria quer apenas saber de onde venho,
o que já vi do seu país/região, e, uns poucos, para minha maior admiração,
perguntam ainda se há algo que possam fazer por mim, ou se houve algum problema
até à data.
E de repente, com
três simples passos – o ripostar o olhar, sorrir e dizer olá – a contemplação
passa a apertos de mão (alguns bem longos, porque aqui há o hábito de segurar
mãos entre homens), a pequenas conversas, a trocas de nomes, a pequenos pedaços
de humanidade que quase sempre mudam o meu humor para melhor.
São metediços é
certo, e extraordinariamente frustrados em alguns níveis (particularmente o
sexual), mas afinal de contas eu é que sou o peixe fora de água. Mais uma vez é só colocar em
perspectiva.
Aqui a mecânica é
simples: vai dando chances. Se na primeira algo corre mal, ou te
decepcionas, certamente na segunda ficas duplamente impressionado, e tudo se
compõe.
Já dizia o outro: é um delicado sentido de equilíbrio, este que se sente por aqui.
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