“Um perfeccionista sem relógio?”
Foi a primeira
coisa que me veio à cabeça quando o meu novo colega, após seguir o meu pulso
com o olhar durante alguns segundos, me perguntou pelas horas.
Tínhamos trocado
apertos de mão e nomes pouco antes, mas como sou péssimo com nomes a única
coisa que retive foi a cara.
Sujeito dos seus
trintas e poucos, mas que passava bem por quarentas devido ao cabelo grisalho
(genética não perdoa), pouco mais alto que eu e de físico também não diferia
muito, ou seja um trinca-espinhas. Foi bastante específico nas instruções que
me deu, dando atenção a vários pormenores sobre os procedimentos para a noite, adicionando
curtas nuances humorísticas, o que apreciei.
Gosto sempre de encontrar um da “minha espécie”, ou pelo menos da imagem que tenho de mim próprio: um comunicador, perfeccionista no que toca a trabalho, às vezes um pouco chato até, mas boa onda nos restantes aspectos, pronto a trocar mais que dois dedos de conversa, mandar umas piadas, e ficar a conhecer mais a fundo cada ser humano com quem se vai cruzando.
Gosto sempre de encontrar um da “minha espécie”, ou pelo menos da imagem que tenho de mim próprio: um comunicador, perfeccionista no que toca a trabalho, às vezes um pouco chato até, mas boa onda nos restantes aspectos, pronto a trocar mais que dois dedos de conversa, mandar umas piadas, e ficar a conhecer mais a fundo cada ser humano com quem se vai cruzando.
Os tais
procedimentos eram bastantes simples, vim a perceber uma meia-hora mais tarde,
o que deu espaço para falarmos sobre música. Não dava para falar de outra
coisa, obviamente, não estivéssemos nós no cloakroom,
o bengaleiro, de uma conhecida sala de concertos do Oeste de Londres.
Vim então a
saber que o meu instrutor era na verdade músico, técnico de som de formação, e
tinha também começado uma editora há uns anos, para lançar discos da própria
banda.
Assim que lhe
falei na minha própria editora, foi como abrir a Caixa de Pandora. Em poucos
segundos debitou vários nomes aparentemente famosos na indústria, fundadores de
impérios como a Capitol Records, um dos poucos que reconheci. Falava deles com
uma naturalidade extraordinária, como se fosse óbvio eu saber quem eram, ou o
que tinham feito, e rapidamente percebi que o cabelo grisalho não era só
genética, havia ali muita sabedoria também.
A noite acabou
por se revelar caótica mas interessante, com impressões e opiniões trocadas claustrofobicamente
entre casacos, malas e pedaços de papel com números, e não pude deixar de
pensar em como tudo é mais agradável quando há tempo para conhecer a pessoa que
está ao nosso lado, seja em trabalho ou noutra situação social, e em como há
potencial e oportunidades para aprender algo em todos os lados.
No fim do
“turno”, a minha pergunta inicial deixou de ser retórica, tinha na verdade uma
explicação simples: o perfeccionista sem relógio é o que mede o tempo de forma
diferente, em compassos por exemplo. É o artista, o criativo, neste caso o que
controla os cloaks mas não se deixa
controlar por clocks.
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