Deitamo-nos
sempre depois do sol nascer.
A manhã surge furtiva
e dissimulada, como quem não sabe bem ao que vai mas na verdade tem o esquema
todo montado. Ironicamente, tudo o que resta de nós perde um pouco do brilho
quando iluminado.
O quarto revela-se pequeno demais para conter o embaraço e os olhares trocados em vez de palavras.
O quarto revela-se pequeno demais para conter o embaraço e os olhares trocados em vez de palavras.
Uma hora e meia de sono. Que inútil. Digo-lhe que quero ficar, que aqueles
olhos e aquele conforto inato são tudo o que preciso, nada mais importa. São
palavras honestas, mas sei que não posso. Ela sabe disso.
Quando fecha os olhos de novo sei que já a perdi. Nunca a tive. Será que alguma
vez a vou ter? Por agora a ilusão que consumo a cada momento sacia-me a sede,
mas o vazio acerca-se sempre de mim.
Antes de virar
costas quis guardar aquele momento. Guardar uma prova de que a insónia não me
tomou por parvo de vez. Guardar algo para que quando voltasse àquele quarto, horas
mais tarde, com menos luz, conseguisse ainda sentir a sua presença.
Mas não o fiz. Fechei
a porta e amaldiçoei o sol. Ladrão de sonhos.
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